domingo, 30 de setembro de 2012

Pilhérias

"Se você é meu amigo,
certamente não se zangará
Se você é meu amigo,
fará o papel de pateta mais uma vez.
Se você é maduro,
entenderá tudo como uma brincadeira
Se você é maduro,
conterá os maus ímpetos"

Foi o que disse você ao introduzir-me a seu prelúdio mortal.
E desculpe-me se eu vier a me comportar "inadequadamente",
mas eu cansei de vociferar meu silêncio.

Então vá em frente! companheiro,
e manifeste sua rude ignorância!
Vá em frente!
e me tome o orgulho que ainda me resta!

Pois para todos os efeitos,
meus protestos são tão notórios
quanto uma bula de remédio.
Bula de remédio para ignorância, eu diria.

E afinal de contas,
quem sou eu para contestar seu senso de humor irrefutável.
E quem sou eu para disputar a autoridade de voz
com esse motim de galinhas surdas e alteradas.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Cansou-se ele

(PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF)
(PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF)
(PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF)
(PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF)
(PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF)
(PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF)
(PUF) (PUF) (PUF) cansou-se ele (PUF) (PUF) (PUF)
(PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF)
(PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF)
(PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF)
(PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF)
(PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF)
(PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF) (PUF)

Puf, puf!

Noite caótica. Suo muito. Minha respiração está pesada. Já não é mais possível se tranquilizar aqui. Pois meu quarto está em chamas psicodélicas e meu corpo se agoniza mais e mais a cada segundo que se passa. É como se o inferno voltasse a me visitar depois de tantos anos de paz.

Sinto dores e desconfortos terríveis. E não importa a posição por mim tomada, nem o quanto eu lute para reconquistar meu estado de harmonia, é como estar sendo sufocado por dentro. Pois não há algo que possa ser feito, a não ser esperar a morte chegar rápida para salvar-me deste sufoco. Esta é tão cruel, mas tão cruel, que prefere assistir tudo de camarote, sem mover um dedo para me levar consigo.

De repente o cenário ao redor se transforma em um ambiente bem insano. Estou dentro de uma arte expressionista? Ou em uma cubista completamente aleatória? Não se sabe. Tudo passa rápido. Não há tempo para compreensões. Em um instantezinho várias cadeias de pensamento vão se formando e em seguida se destituindo, desfigurando os conceitos de coesão lógica.

Tanto já se passou, que o sofrimento de meu corpo mal se nota.

Eu aterrisso em um novo cenário, desta vez, um pouco mais racionalmente estabilizado. Aqui, há uma roda de pessoas adultas, em volta de uma mesa, cujos olhos se voltam a mim instantaneamente. Uma mulher de óculos e alguns homens os quais não possuem características notáveis. "Ele tem que decidir como o dinheiro será dividido entre nós", disse a mulher. Eu olho por cima de meus ombros. Sou a única pessoa deste lado. Viro-me a cabeça de volta. Todos me fitam. Nada mais é dito. Mas é só uma questão de tempo até tudo se distorcer novamente.

Todos se levantam e giram ao meu redor ordenando caoticamente que eu solucione uma partição de bens. Eu não quero fazer isso! Tampouco sei como se faz. Parem de me perseguir! Parem de requisitar-me algo que não me diz respeito! Tento fugir, mas essas cabeças falantes seguem-me voando. Espanco-as com tapas e cabeçadas. Tento espantá-las. Não dá certo. Abaixo-me, faço-me de concha e fecho os olhos. Aguento toda a dor. É minha última tentativa de fuga tomada pela razão. E nada. Nada mais acontece. Nada! Nada? Espere, o que eu acabei de dizer?

Eu acordo para a realidade ofegante. Meu corpo volta a sofrer. Estou de volta e não posso deitar a cabeça novamente, pois o caos fulminante de alguns segundos atrás está a minha espera. Portanto, levanto-me da cama rápido, pois ela é como um portal que me levará de volta àquelas cabeças. E isso é algo que não quero para mim.  Então vejo-me diante de uma questão irresolúvel: arder nestas chamas agonizantes ou ser perturbado por meus fantasmas caóticos novamente.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Pós-morte

Chame-me de monstro. Tantas atrocidades cometidas às cegas e ainda assim tamanha impunidade que chega até a me humilhar. Como me permiti feri-lo? Não importa mais se foi sem querer ou não, o controle de meus sentimentos está sob minha responsabilidade. Pois ninguém tomará essa responsabilidade em meu lugar, ou tomará? No final das contas, eu não fui capaz de enxergar os cursos intolerantes que meu comportamento percorria.

Você estava sempre certo, e eu, errado. Embora eu compreendesse que minha conduta às vezes saía de meu controle, sempre que entrávamos em conflito, dentro da minha cabeça, você tinha uma parcela de culpa por todas aquelas brigas. Pois para mim, sua pessoa se exaltava à toa em meio a causas fúteis. Eu não estava me pondo no seu lugar o bastante para perceber o quão imaturas eram minhas atitudes... e nem do quanto você abriu mão para beijar meus lábios. Pois meus impulsos, típicos da Revolução Industrial, não me mantinham devidamente acordado.

Mas a despeito de todas essas verdades, havia algo no qual nós dois, igualmente, estávamos errados: eu não estava a frente de meu tempo. Trucida-me a alma lembrar de suas observações animadoras sobre mim. Lembrar do quão [aparentemente] perfeita era minha condição de ser humano. Minha pessoa não era o que nós dois esperávamos...

"Falar com você é como falar com alguém de 30 anos [...] Você é tão bonito por fora e por dentro..."


O nosso clube secreto é tão sem vida na sua ausência. Minha cama já não terá mais a oportunidade de quebrar ao carregar o peso de nossos dois corpos juntos. Isso pode ser engraçado para quem ouve de fora, mas profundamente intrínseco para mim. A partir d'agora, essa cama será meu caixão.

E mesmo após o passar de todas essas eras mal passadas durante as quais minha compreensão acerca dos fatos aprimorou-se, meu único exemplo de par perfeito é ninguém mais, ninguém menos que você. E a insistência de sua imagem em minha mente talvez seja minha punição. Mas ainda assim, estarei longamente em débito com você.