sexta-feira, 31 de maio de 2013

Cinética dos Valores


ESCURICISMO

inquebráveis camadas de concreto
cobrem nossos corpos nus

a nossa inocência foi roubada,
a liberdade nos foi censurada
e a curiosidade foi substituída
pela seleção artificial

nós não somos o universo
nós somos células individuais
esperando o dia em que faremos sexo
esperando o dia em que nos masturbaremos
usando cédulas de 10 reais

então vamos nos horrorizar
com as mulheres que usam burca
enquanto vestimos nossas
medíocres roupas de homem

então vamos nos horrorizar
com os representantes da nação
responsáveis por administrar
nossa concessocracia

então vamos nos horrorizar
com o filho infeliz da vizinha
que não foi médico
não foi feliz

que horror essas
pobres mulheres sem liberdade no oriente médio

que horror esses
irresponsáveis políticos sugando as riquezas da nação

que horror aquele
filho da vizinha que não passou no vestibular

sim, o sofrível filho de aparecida foi:
pedaços de papel desperdiçados,
ligas metálicas desperdiçadas,
lições de moral desperdiçadas

foi, em suma, um fracasso
embora aprendera muito bem que
"clavículas, abdômen, o coração e a boca"
não pertencem a nós, bichos civilizados
incapazes de "furar o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio"

domingo, 10 de fevereiro de 2013

A trava

Já se passaram os tempos
Em que minha angústia era versificada
E às vezes quase bem metrificada.

Agora as palavras fogem de mim.
E a metrificação não passa de equações
As quais nunca, na vida, vi.

Sou consumido diariamente
Por uma dose de impaciência,
Por uma dose de conformismo
E por uma dose de burrice.

Sinto-me o cérebro se putrefazer
E meu único valor se desfazer
Em uma neblina reservada pra velhinhos.

Já troquei o verbo "andar" por "vagar".
Pois agora me sinto como uma alma perdida,
Deslocada de seus propósitos e aspirações.
Deslocada de suas reais qualidades.

Se esse é o começo do fim,
Então começo dando "adeus"
À prosa e à poesia.
E finalizo dando "boas-vindas"
À leitura e à agonia.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Ritmo dos comportamentos

Profundos, dentro de sua cabeça,
Sentimentos embaralham circuitos
Imperfeitos em frente à discrença
Em que porá em prática os bons intuitos.

Por que tem estado tão temeroso
Em relação à valsa das desavenças?
Dever-se-ia o fato à perda de suas crenças
Na competência de um defeituoso?

Vejo que você já a dançou inúmeras vezes
E, como esperado, só a ruína alcançou,
Sem saber se o homem defeituoso consertou.

Você passou a se abstir dos rítmicos prazeres
E agora a pista de dança lhe traz arrepios
Pois, em sua cabeça, circulam ritmos vazios.